Aborto e o papel do Estado
Já escrevi sobre este assunto no defunto "Choldra Ingovernável" (link indisponível, eu apaguei o blog... burro!). Sempre defendi que a principal componente da questão do Aborto, muito mais do que de consciência, é política. É mesmo da própria definição do papel que o Estado deve desempenhar.
Desde sempre, o Estado teve, e tem, o poder de tirar vidas, quando o bem comum assim o exige (guerra, desordem pública, até no próprio poder judicial). Nesta medida, o Estado tem uma dimensão assassina, é-lhe intrínseca. A questão no Aborto é saber se é necessário para o bem comum aumentar essa dimensão. Neste sentido, os argumentos de maior validade para a descriminalização do Aborto são a preservação da Saúde Pública e a coesão socio-económica do país. Para os que defendem um papel mais forte do Estado, embriões indesejados devem ser executados (sim, por muito que não gostem, já se trata de vida. Ainda por cima, é um assassínio cobarde). É por isso natural que a Esquerda, na sua maioria, tome esta posição. Os que defendem um menor peso do Estado, opõem-se acerrimamente (normalmente, a Direita).
Confesso que não me faz confusão o Estado ter esse poder. Sempre defendi um Estado leve, mas com autoridade. No entanto, se alguém que eu conhecesse recorresse ao aborto, não teria dúvidas em censurá-la fortemente. Delegar a responsabilidade de ter filhos ao Estado é um sinal de uma falta de carácter que eu, no trato pessoal, não aceitaria. Ou seja, consigo distinguir (penso eu) a componente política da componente de consciência (como já disse no "Choldra", quem põe a hipótese de abortar continuará a fazê-lo, sucedendo o mesmo aos que rejeitam tal hipótese), coisa que muita gente não consegue.
Não posso deixar de dizer que, ao discirminalizar-se o aborto, está a dar-se um passo perigoso. Se a existência de uma vida pode reger-se por razões meramente económicas, esta tem, efectivamente, pouco valor...