setembro 27, 2004

João Soares, Sócrates, Guterres e o voto português



Nada me deu mais satisfação do que saber que João Soares teve apenas 2% dos votos para a liderança do PS. O pior político que já ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa vai, finalemnte, meter-se no devido lugar e vai deixar de nos atormentar (isto é, se tiver o mínimo de vergonha). Mas o facto de João Soares ter existido no mundo da política portuguesa é sintomático do nível desta. Nenhum resultado eleitoral foi mais absurdo do que a eleição fácil de João Soares contra um dos políticos mais competentes na governação do Portugal democrático (Joaquim Ferreira do Amaral). Vivia-se a onda do Guterrismo, do diálogo, dos aumentos salariais indiscriminados, do "boom" do consumo. Pode dizer-se que, naquela altura, se o cabeça-de-lista do PS fosse um burro, ganharia as eleições. Não o nego. No entanto, penso que o fenómeno João Soares é em tudo semelhante ao fenómeno Guterres e à sua reencarnação (Sócrates), muito ligado à maneria como parte da população entende como deve ser um político.
Para os portugueses de hoje em dia, um lider político deve ser, sobretudo, uma pessoa afável, simpática, com lábia. Descura-se claramente a competência, a autoridade, ideias fortes, o rigor, o sentido de Estado (nota: sentido de Estado não é a palhaçada típica de Paulo Portas...). Tal pode ser resultado da saturação da governação de Cavaco Silva. No entanto, Cavaco tinha um grande trunfo nas origens humildes, coisa que o portguesinho também gosta muito. Era a sua vertente "coitadinho". E a verdade é esta: ser-se "coitadinho" compensa muito na política portuguesa. Nós não temos o culto do sucesso. E por isso somos o que somos. Vejamos até que ponto Sócrates seguirá as pisadas do seu mentor (o "coitado-mor" do país). Sinceramente, espero melhor de Sócrates do que sempre esperei de Guterres. Ao menos, teve coragem de levar uma ideia sua até ao fim, que permitiria solucionar o problema dos resíduos. Demos o benefício da dúvida. Contudo, já começou a usar a expressão mais vazia da política portuguesa: "a Esquerda Moderna"...

Elogio a Pedro Santana Lopes



Apesar de estar a revelar toda a sua incapacidade e incompetência no governo (dir-se-ia mesmo que está à rasca com a dimensão do problema que é governar o país), deixo aqui o cumprimento obrigatório ao ex-autarca de Lisboa pela transição do terminal de camionetas do Arco do Cego (zona onde resido) para o terminal de Sete Rios. Pôs-se fim ao absurdo de haver um terminal de autorcarro intercidades no meio de Lisboa, sem qualquer ligação directa às vias principais da cidade. É claro que a medida foi prometida por forma a obter votos. E, da minha parte, já o conseguiu: é certo e sabido que nas próximas autárquicas votarei PSD, por ter cumprido a principal promessa autárquica

setembro 21, 2004

Guerra dos sexos #3



Uma das melhores situações jamais vistas e ouvidas em cinema, no grande As good as it gets:

Receptionist: How do you write women so well?
Melvin Udall: Easy. I think of a man, and I take away reason and accountability.

setembro 18, 2004

Vision of Hell #1



Quando uma pessoa que viva em Lisboa estiver farta da cidade, basta fazer uma curta viagem de 10 km para se sentir muito melhor. Nada consegue ser pior que o Cacém...

setembro 16, 2004

Guerra dos Sexos #1



Quando alguém encontrar uma mulher que saiba o que quer na vida, que me avise...

setembro 13, 2004

Bom começo de semana



Sporting a perder. Porto a empatar. Ah, felicidade...

setembro 12, 2004

Viagens na minha Terra #1: Cabeção-Aldeia Velha-Galveias



Sendo um dos motivos do Blog dar a conhecer Portugal (como foi indicado pela Leonor), nada melhor que começar esta secção, onde indicarei as mais belas estradas que percorri, pela que une a minha terra natal, Cabeção (Concelho de Mora), às Galveias, passando pela Aldeia Velha (Concelho de Avis). Neste caso, a beleza do maior montado de sobro do País é única. A estrada, estreita e antiga, deverá ser percorrida a ritmo de passeio, para melhor reter as imagens únicas de uma paisagem praticamente inalterada pelo Homem, verdadeiramente alentejana e, por isso, verdadeiramente portuguesa, da qual é possível retirar riqueza. Se a viagem for feita ao fim da tarde, perto do pôr-do-sol, torna-se um verdadeiro deleite para os amantes da Natureza.
É claro que, ao se fazer a estrada, não se deverá deixar de visitar as localidades indicadas, todas elas com inúmeros pontos de interesse. Cabeção, além da pesca desportiva (reconhecida a nível nacional), tem um pelourinho antiquíssimo (embora "restaurado") de elevado interesse histórico. Também é notável, na zona mais antiga da vila, a antiguidade das casas, em ruas estreitas. Nas redondezas, há inúmeros vestígios de ocupação pré-histórica, tais como antas (neste caso, mais para o lado de Pavia, numa direcção contrária à da estrada aconselhada). A Aldeia Velha (de Sta Margarida Perpétua) é de uma beleza extraordinária por um simples facto: sendo isolada, pouca alteração sofreu. É uma aldeia alentejana por excelência, singela, de casario branco. No que diz respeito às Galveias, pouco conheço, pelo que não me vou alargar. Há, contudo que destacar o facto de a Junta de Freguesia de Galveias ser a mais rica de Portugal, devido ao legado de um benemérito local, que deixou todo o seu património ao Povo.

setembro 10, 2004

Alemanha vs. Polónia



Os que me conhecem sabem que no verão do ano passado fiz um estágio de 2 meses numa empresa alemã em Wroclaw, capital da Baixa Silésia, na Polónia. Durante esse tempo, tive contacto com a realidade da região, tendo especial curiosidade no que diz respeito ao sentimento dos meus amigos polacos em relação aos alemães e aos russos. Sendo um povo claramente nacionalista, fruto da história de sucessivas invasões suecas, alemãs, russas e até otomanas (um dos mais vangloriados reis da Polónia, Jan Sobieski, reclamava o título de "Vencedor dos otomanos"), tinham um sentimento bastante tolerante em relação aos alemães e um ódio fortíssimo em relação aos russos, também por sentirem que estes foram responsáveis pela privação que passaram até à Queda do Muro. A tal também não será alheio o facto de grande parte dos Polacos da Silésia descenderem de deslocados da antiga Polónia oriental, actulamente parte da Bielorrúsia e da Ucrânia (zona de Lvov), que foram colocados em terras anteriormente alemãs (Silésia, Pomerânia e Prússia orientais).
A anexação destes últimos territórios sempre teve contestatários do lado alemão. De facto, foi uma limpeza étnica apenas excedida pelo Holocausto. A voz destes elementos era ouvida com alguma atenção do lado polaco, sempre algo incomodado. A acção do grupo parece ter excedido o razoável, tendo a Dieta polaca respondido na mesma moeda, conforme indica este artigo. Esta notícia é grave. A estabilidade da relação Alemanha-Polónia é essencial para a própria União Europeia. A Polónia constitui o país de maior potencial dos novos membros da UE, com condições de se tornar um dos motores desta dentro de algumas décadas (2 a 3, diria). A relação, já de si com elementos de tensão elevados, foi ainda agravada pela Guerra do Iraque, em que a Polónia, vendo a Alemanha e a Rússia alinhadas, não teve outra alternativa senão aliar-se aos EUA (além disso, os Polacos não se esqueceram de quem foi o principal responsável pela sua libertação...). Pode mesmo dizer-se que o alinhamento da Alemanha com a Rússia foi o maior tiro no pé dos últimos anos, levando a um levantamento maciço dos países da esfera alemã contra a sua posição.
O recurso a posições nacionalistas básicas num país com ressentimentos, com uma taxa de desemprego na ordem dos 20%, pode tornar-se explosiva. É, assim, importante tentar refrear os ânimos tanto do lado polaco como do lado alemão. A esse apaziguamento não poderão ser alheias as instituições europeias, principais garantes, em conjunto com a NATO, da paz na Europa nos últimos 60 anos.

setembro 09, 2004

Geotecnia #1



Para quem não sabe, a Geotecnia é a especialidade da Engenharia que trata das situações em que os solos ou as rochas são fundamentais para o comportamento desejado da estrutura, quer em termos de funcionalidade, quer em termos de segurança. Assim, é essencial em vários domínios, desde logo fundações de edifícios, vias de comunicação, túneis, estabilização de encostas (taludes), galerias.Tem, como é natural, uma fortíssima carga empírica, sendo indispensáveis ensaios de campo e sondagens, dada a grande heterogeneidade de situações. É uma especialidade limite entre a Engenharia Civil e a Engenharia Geológica/de Minas, pelo que, por vezes, surgem polémicas ou incompreensões. Sendo eu engenheiro civil, tendo a defender o ponto de vista da minha formação-base (os geólogos não têm total compreensão dos fenómenos de interacção solo/estrutura; por outro lado, têm um conhecimentos mais sólido de Mecânica das Rochas e Geologia pura). Desde logo, faço um convite a pessoas que visitem o blog e estejam interessadas no assunto: comentem os posts que escrevo! Debater é preciso!

"Abstract"



Este post marca o meu regresso oficial à blogosfera. Em tempos que já lá vão, iniciei o "Choldra Ingovernável", onde ainda pude escrever algumas (poucas) coisas de jeito. Haverá posts do mesmo tipo; outros nem tanto.
Discorrer-se-á sobre assuntos tão variados como Política, Televisão, curiosidades... A parte da Cultura ficará mais a cargo da Leonor, sempre uma exploradora de links altamente interessantes nessa área. Haverá também lições/comentários sobre Geotecnia, para os mais incautos navegantes, amantes de ciências ocultas...
Os dois primeiros posts foram elaborados em conjunto, pelo que reclamo a co-autoria!