março 19, 2005

Alentejo, PCP e homogeneidade de Portugal



Sou Alentejano. Além de o ser, mantenho contacto com a minha terra natal, alguns dos meus melhores amigos são de lá e grande parte da minha personalidade explica-se por vivências que lá tive. Uma delas sobressai em relação a todas as outras: sou um homem com Fé. Tenho Fé em mim, tenho Fé no Benfica, tenho Fé no Amor, tenho Fé na Amizade, tenho Fé nas pessoas, tenho Fé nos indivíduos enquanto motores da Sociedade. Também por sermos homens de Fé, nós, Alentejanos, somos extraordinariamente conservadores. É apenas um conservadorismo avassalador que explica a força do PCP nas minhas terras. Perante o grau de injustiça a que foram submetidos até ao 25 de Abril, em que viviam sob um sistema que mantinha características medievais, orientaram a sua Fé para a força motriz da mudança, que destruiu muito, arruinando um possível tecido de empresários agrícolas, mas levando a uma melhoria relativa das vidas das pessoas, pela força reivindicativa e pelo Poder que tiveram durante o PREC. Assim, tornaram-se devotos do PCP, enquanto instituição para a promoção da igualdade entre todos. É isso também que explica a rigidez do PCP: é uma Igreja dos que vêem o Estado como solução de todos os problemas.
Os Alentejanos mantêm a sua Fé não só no PCP, mas também nas suas tradições e costumes. E o PCP percebe isso. Exemplos claro disso são o recurso a música tradicional que toca sempre que há campanhas eleitorais e a omissão clara de temas actualmente conotados com a Esquerda, como a liberalização do consumo de drogas ou o casamento entre homossexuais. Tal deve-se ao facto de, além de sermos Alentejanos, sermos profundamente Portugueses, na nossa maneira de ser. A sociedade portuguesa é, na sua globalidade, conservadora. Apenas há uma heterogeneidade política: enquanto que no Norte, se promove o indivíduo como entidade política essencial, no Sul promove-se o Estado (não é por acaso que o Alentejo, durante a Guerra Civil, alinhou sobretudo com a causa Absolutista, em contraponto ao Norte, maioritariamente liberal). Ou seja, no fundo, de Norte a Sul, somos os mesmos.

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