Não vejo horizonte de hipotéticas circunstâncias que levem o Sporting e o sportinguista médio a deixarem de ser entidades patéticas. Nem vive nem está morto nem nascerá no futuro próximo um único sportinguista que não tenha ficado contente com o jogo de ontem. O Dias Ferreira, na Sic Noticias, era a felicidade em pessoa. Foi um "jogo equilibrado", fomos "uma equipa tranquila", tivemos "azar", "faltou-nos aquela pontinha de sorte", roubaram-nos "um penalti", tudo dito como se falasse de um filho que acabasse de terminar o doutoramento e de comer a Uma Thurman. Perdemos nas grandes penalidades, com o Ricardo a adivinhar o lado contrário de todos os penaltis, o que não é para qualquer um.
Como é que se consegue criar um clube com estas características é que eu ainda não percebi. Ainda no outro dia dizia José Roquette com apoplético júbilo e cancerígeno orgulho que o melhor jogador do Benfica e máximo responsável pelos campeonato do ano passado e quartos-de-final da Liga dos Campeões deste ano foi um miúdo, Simão Sabrosa, criado no Sporting; que o melhor jogador do Porto e máximo responsável pelo campeonato deste ano do Porto é um jogador criado no Sporting, Ricardo Quaresma; que o melhor jogador dos anos oitenta, Futre, foi criado no Sporting; que o melhor jogador dos anos noventa foi Figo, um jogador criado no Sporting; que o actual melhor jogador nacional é Cristiano Ronaldo, criado no Sporting. E tudo isto para quê? Para ganharmos dois campeonatos de forma ridícula e absolutamente inglória e irmos a uma final europeia de uma Taça Uefa que pura e simplesmente não existe, e que perdemos em nossa casa, facto que é quase inédito a nível mundial em qualquer escalão de qualquer desporto.
A única vantagem que, ao que me parece, releva de interesse e valor para o Sporting deste misterioso estado de coisas é que o sportinguista percebe em média muito mais de futebol que qualquer outra pesssoa em Portugal e, estou em querer, no mundo. Não pode ser apenas por acaso que o Futre, o Figo, o Simão, o Quaresma e o Cristiano Ronaldo tenham saído daquela casa e não de outras, muito mais populosas (Benfica) ou raivosas (Porto). O sportinguista, por ter de viver sem esperança de glória ou orgulho aprende desde a mais tenra idade a subjugar-se ao desporto em si, à arte da coisa. Suponho que é isto, mas pode ser que nem isso seja.
maradona (com a vénia devida ao melhor blogger português)
Só discordo de um ponto: o sportinguista caracteriza-se, sobretudo, por não perceber nada de futebol. Ou é mulher, ou é homem e não liga a futebol, ou tem a mania que é cromo e adora jogadores como Dominguez, Sá Pinto e Dani, ou, por fim, tem a mania que é "bem" ser-se do Sporting.