Alemanha vs. Polónia
Os que me conhecem sabem que no verão do ano passado fiz um estágio de 2 meses numa empresa alemã em Wroclaw, capital da Baixa Silésia, na Polónia. Durante esse tempo, tive contacto com a realidade da região, tendo especial curiosidade no que diz respeito ao sentimento dos meus amigos polacos em relação aos alemães e aos russos. Sendo um povo claramente nacionalista, fruto da história de sucessivas invasões suecas, alemãs, russas e até otomanas (um dos mais vangloriados reis da Polónia, Jan Sobieski, reclamava o título de "Vencedor dos otomanos"), tinham um sentimento bastante tolerante em relação aos alemães e um ódio fortíssimo em relação aos russos, também por sentirem que estes foram responsáveis pela privação que passaram até à Queda do Muro. A tal também não será alheio o facto de grande parte dos Polacos da Silésia descenderem de deslocados da antiga Polónia oriental, actulamente parte da Bielorrúsia e da Ucrânia (zona de Lvov), que foram colocados em terras anteriormente alemãs (Silésia, Pomerânia e Prússia orientais).
A anexação destes últimos territórios sempre teve contestatários do lado alemão. De facto, foi uma limpeza étnica apenas excedida pelo Holocausto. A voz destes elementos era ouvida com alguma atenção do lado polaco, sempre algo incomodado. A acção do grupo parece ter excedido o razoável, tendo a Dieta polaca respondido na mesma moeda, conforme indica este artigo. Esta notícia é grave. A estabilidade da relação Alemanha-Polónia é essencial para a própria União Europeia. A Polónia constitui o país de maior potencial dos novos membros da UE, com condições de se tornar um dos motores desta dentro de algumas décadas (2 a 3, diria). A relação, já de si com elementos de tensão elevados, foi ainda agravada pela Guerra do Iraque, em que a Polónia, vendo a Alemanha e a Rússia alinhadas, não teve outra alternativa senão aliar-se aos EUA (além disso, os Polacos não se esqueceram de quem foi o principal responsável pela sua libertação...). Pode mesmo dizer-se que o alinhamento da Alemanha com a Rússia foi o maior tiro no pé dos últimos anos, levando a um levantamento maciço dos países da esfera alemã contra a sua posição.
O recurso a posições nacionalistas básicas num país com ressentimentos, com uma taxa de desemprego na ordem dos 20%, pode tornar-se explosiva. É, assim, importante tentar refrear os ânimos tanto do lado polaco como do lado alemão. A esse apaziguamento não poderão ser alheias as instituições europeias, principais garantes, em conjunto com a NATO, da paz na Europa nos últimos 60 anos.
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