João Soares, Sócrates, Guterres e o voto português
Nada me deu mais satisfação do que saber que João Soares teve apenas 2% dos votos para a liderança do PS. O pior político que já ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal de Lisboa vai, finalemnte, meter-se no devido lugar e vai deixar de nos atormentar (isto é, se tiver o mínimo de vergonha). Mas o facto de João Soares ter existido no mundo da política portuguesa é sintomático do nível desta. Nenhum resultado eleitoral foi mais absurdo do que a eleição fácil de João Soares contra um dos políticos mais competentes na governação do Portugal democrático (Joaquim Ferreira do Amaral). Vivia-se a onda do Guterrismo, do diálogo, dos aumentos salariais indiscriminados, do "boom" do consumo. Pode dizer-se que, naquela altura, se o cabeça-de-lista do PS fosse um burro, ganharia as eleições. Não o nego. No entanto, penso que o fenómeno João Soares é em tudo semelhante ao fenómeno Guterres e à sua reencarnação (Sócrates), muito ligado à maneria como parte da população entende como deve ser um político.
Para os portugueses de hoje em dia, um lider político deve ser, sobretudo, uma pessoa afável, simpática, com lábia. Descura-se claramente a competência, a autoridade, ideias fortes, o rigor, o sentido de Estado (nota: sentido de Estado não é a palhaçada típica de Paulo Portas...). Tal pode ser resultado da saturação da governação de Cavaco Silva. No entanto, Cavaco tinha um grande trunfo nas origens humildes, coisa que o portguesinho também gosta muito. Era a sua vertente "coitadinho". E a verdade é esta: ser-se "coitadinho" compensa muito na política portuguesa. Nós não temos o culto do sucesso. E por isso somos o que somos. Vejamos até que ponto Sócrates seguirá as pisadas do seu mentor (o "coitado-mor" do país). Sinceramente, espero melhor de Sócrates do que sempre esperei de Guterres. Ao menos, teve coragem de levar uma ideia sua até ao fim, que permitiria solucionar o problema dos resíduos. Demos o benefício da dúvida. Contudo, já começou a usar a expressão mais vazia da política portuguesa: "a Esquerda Moderna"...