Geotecnia #2
Logo no início deste blog, foram prometidas algumas notas sobre Geotecnia. Como hoje foi um dia especial para mim no que à Geotecnia diz respeito, vou finalmente escrever um post há muito pensado. Vai versar sobre um "case-study" absolutamente fundamental sobre barragens de aterro: a rotura da barragem de Teton, nos E.U.A.
A contrário do que é do senso comum, a maior parte das barragens existentes no mundo não são de betão: são construídas recorrendo a solos compactados e colocados, ou seja, são de aterro. Estas barragens são fundamentalmente constituídas por argilas no núcleo, logo, por solos pouco permeáveis. No pé desta, para jusante, é construído um dreno, de material de permeabilidade muito mais elevada (areia, cascalho). Assim, tendo em conta que a água tende a escoar para materiais de maior permeabildade, esta escoa, pelo material de menor permeabilidade, para o dreno, havendo uma diminuição do nível da água até este atingir o nível do dreno. Em circunstância alguma deverá a água atravessar a barragem sem que o nível desta diminua até ao dreno. Caso tal suceda, há uma alteração na rede de escoamento que provoca, em pouco tempo, a rotura da barragem.
Foi exactamente o que aconteceu em Teton. Cerca das 9 da manhã do dia 5 de Junho de 1976, a equipa que efectuava a monitorização da barragem reparou numa pequena mancha na encosta jusante da barragem. Tendo sido dado o alerta, procedeu-se à evacuação imediata das localidades mais próximas, a jusante. Cerca do meio dia, deu-se a rotura completa da barragem.
As imagens e vídeos são impressionantes (ver aqui, aqui e aqui). Notável é o facto de o número de mortos ter atingido apenas uma dezena de mortos, sensivelmente. Foi um enorme feito das autoridades locais. Este acidente também demonstra a brutalidade e dimensão dos fenómenos que estão em jogo na Geotecnia. E, por isso, fascinantes.
Uma última nota: o grande Manuel Rocha foi um dos especialistas recrutados para a explicação do fenómeno a posteriori.
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